Ler todos os dias.
Andreia Donadon Leal- Mestre em Literatura pela UFV
A média brasileira de leitura, segundo pesquisas, é de dois a três
livros por ano. É vezo humano consolar-se facilmente ou tomar como base
índice tão pífio. É mórbido, mas é cômodo e fácil consolar-se com a
própria preguiça ou miséria, quando reconhecemos (erroneamente) que há
pelo mundo afora, homens mais preguiçosos, mais
incultos ou mais miseráveis do que nós, porque leem menos. Certo
filósofo grego chegou a dizer isso, procurando consolar-se com seus
próprios defeitos, com sua perversidade e com sua preguiça, quando
reconhecia, que há no mundo, homens muito mais perversos ou mais
preguiçosos do que ele.
A assertiva acima está longe de ser
nobre e exemplar. O desejo de melhorar demonstra luta, esforço contínuo,
trabalho, vontade de crescer, além de uma boa dose de energia moral.
Seria enriquecedor se nos pautássemos sempre no inverso: que há homens,
incrivelmente mais cultos do que nós, que há pessoas que leem mais,
porque a leitura abre caminhos, veredas e nos tira da escuridão e do
obscurantismo. Há homens e mulheres, incrivelmente mais informados, mais
esforçados; menos miseráveis e menos embrutecidos intelectualmente do
que nós.
Nivelar-se na média nacional é contentamento de
muitos brasileiros, para não dizer comodidade e preguiça. Fico indignada
e estarrecida, quando escuto jovens e/ou adultos falarem que leem um ou
dois livros por ano e ainda frisam “com mais de 100 páginas”. Alguns
porque o colégio exigiu, outros porque está fazendo frio ou chovendo ou
não têm nada mais interessante para fazer.
Ler deveria ser
vício, paixão avassaladora, prazer dos prazeres, pois é alimento
eficiente e duradouro para a mente, para o enriquecimento intelectual e
para a vida. Ler salva vidas do empobrecimento de palavras, de
expressões, da miséria de ideias e opiniões e do embrutecimento
intelectual. Ler não só salva vidas, mas também é um dos maiores
prazeres da introspecção. Auxilia na análise e na reflexão; ajuda-nos a
opinar e a defender nossos direitos com propriedade e embasamento.
Ler é um dos mais benéficos prazeres da solidão, pois na vida real
jamais conheceremos tantas pessoas como através da leitura, mas também,
porque amizades são frágeis, propensas a diminuir em número, a sucumbir
em decorrência do tempo, das divergências, dos desafetos e correrias da
vida.
A leitura deve fazer parte de nossas vidas na mesma
proporção e importância que a alimentação e as necessidades
fisiológicas. É necessário, também, exercitar o cérebro com leituras
diárias, preferencialmente de autores que apreciamos e com os quais nos
identificamos.
Comecem a ler, prezados leitores, para
constatar que de fato o livro, a leitura e a literatura são amigos
autênticos, eficientes, inseparáveis e enriquecedores; além de nos tirar
do obscurantismo intelectual, são companhia constante. Os benefícios da
leitura são ouro, pedra preciosa e luz contínua para o conhecimento e
aprimoramento humano. Não importa o motivo e o gênero escolhido, o que
vale é ler, ler com prazer, todos os dias.
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